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domingo, 21 de fevereiro de 2010

Nietzsche e o Nazismo

Friedrich Wilhelm Nietzsche (Röcken, 15 de Outubro de 1844 — Weimar, 25 de Agosto de 1900) foi um influente filósofo alemão do século XIX.Atualmente é um dos filósofos mais lidos e populares. Sua filosofia se baseia principalmente no estudo da moral, na critica das religiões e doutrinas de "negação da vida" e crítica dos humanistas e iluministas, que no abuso da razão, insistiam na transcendencia de valores e crenças metafísicas.

Nietzsche juntamente com Freud e Marx foram os filósofos mais controversos da história moderna, que marcaram a divisão do período moderno (até a primeira metade do século XIX) e contemporâneo (a partir da segunda metade do século (XIX).


É comum não simpatizantes e leigos em sua filosofia associarem Nietzsche ao anti-semitismo (nazismo). Como bem disse, opinião apenas de não simpatizantes e de leigos que tendenciosamente fazem tal associação. Deixemos que o próprio filósofo em questão, Nietzsche, se defenda de tais acusações.


"(...) Não, não amamos a humanidade; mas, por outro lado, somos muito pouquíssimos “alemães”, no sentido que a palavra tomou nos nossos dias, para poder falar em favor do nacionalismo e do ódio das raças, para nos regozijarmos com esta lepra do coração, com este envenenamento do sangue, que faz com que os povos da Europa se isolem, criem barricadas, se ponham de quarentena. Somos muito imparciais para isso, maus espíritos e delicados, estamos muitíssimo bem informados e viajamos muito: (...) " (A Gaia Ciência, aforismo 377)


“O que a Europa deve aos judeus? Muitas coisas, boas e más, e antes de mais nada ma
coisa que tem do melhor e pior para dar: o estilo grandioso da moral, o terrível e a majestade de postulados imensos, de infinitos significados, todo o romantismo e o sublime dos problemas morais — e conseqüentemente a parte, mais interessante, embaraçosa e procurada pelo caleidoscópio de seduções da vida, que ilumina com seus últimos clarões a céu, o pôr-do-sol, talvez, de nossa civilização européia. Nós artistas entre os espectadores e os filósofos nos sentimos reconhecidos por isso — aos judeus.”. (Para Além do Bem e do Mal, aforismo 250.)


“(..)se tem, em resumo, qualquer acesso de imbecilidade; assim, por exemplo, os alemães da atualidade cultivaram a demência anti-francesa, outras, a anti-semita, a anti-polaca, a romântico-cristã, a wagneriana, a teutônica, a prussiana (..)Mas os judeus são incontestavelmente a raça mais vigorosa, mais tenaz e mais genuína que vive na Europa, sabem caminhar nas piores condições (e talvez muito melhor que em condições favoráveis) e isto quanto a tais virtudes (..)seria adequado afastar, de todos os países, os agitadores antisemitas. (..) (“Idem, aforismo 251)


"Não faltam abortos de qualquer gênero, nem mesmo os anti-semitas. Pobre Wagner! Até onde chegara! Fosse dar pelo menos em meio de suínos! Mas... Entre alemães!..." (Ecce Homo)


Quanto Elisabeth - a irmã de Nietzsche - ele deixou claro enquanto lúcido seu desprezo pelos anti-semitas, inclusive seu ex-amigo Wagner e sua irmã que se casou com um anti-semita.



"Em uma carta à irmã, no Natal de 1887, Nietzsche é enfático, dizendo que sua irmã cometeu uma grande estupidez (para ambos) associando-se aos anti-semitas do Partido Nacionalista Alemão, que, mais tarde em 1920, viria a tornar-se o Partido Nazista Alemão (Ultranacionalista). Disse ainda que era uma questão de honra para ele ser o mais claro possível quanto à sua posição em relação ao anti-semitismo, a saber, que ele era nomeadamente contra e que considerava isso uma estupidez, e mais, que sentia nojo de tal Partido. Segundo ele, devido à atitude dela, casando-se com um anti-semita, ele vinha sendo confundido frequentemente, recebendo cartas de apoio de anti-semitas. Dizia Nietzsche que os anti-semitas estavam utilizando-se do nome dele para se promoverem." (O Julgamento de Nietzsche - Alexandre Anello)



"Nada quero com «crentes», penso que sou demasiado malicioso para acreditar em mim mesmo; nunca falo às massas... Sinto uma angústia aterradora de que, um dia, me venham a canonizar; adivinhar-se-á porque é que antes publico este livro; ele impedirá que comigo se cometam patifarias... Não quero ser santo algum, prefiro antes ser um arlequim... Sou porventura um arlequim... E apesar disso ou, antes, não apesar disso – pois, até hoje, nada houve de mais mentiroso do que um santo – a verdade fala por meu intermédio. " (Ecco Homo, "Porque sou um destino")


Seja qual for a complexidade de Nietzsche, o leitor advinha facilmente em que categoria (ou seja, em que tipo) ele teria classificado a raça dos “mestres” concebida pelos nazistas. É somente quando o niilismo triunfa que a vontade de potência deixa de querer dizer “criar” e passa a significar: querer a potência, desejar o domínio (e portanto atribuir-se ou fazer-se atribuir os valores estabelecidos, dinheiro, honras, poder…). Ora, essa vontade de potência é precisamente a do escravo, é a maneira pela qual o escravo ou o impotente concebe a potência, a idéia que ele tem dela, e que ele aplica quando triunfa. Um doente pode muito bem dizer: “ah, se eu estivesse bem de saúde, eu faria isto” – e talvez ele o fizesse – mas seus projetos e concepções são ainda os de um doente, nada mais do que os de um doente. É a mesma coisa com o escravo e sua concepção da maestria ou da potência. É a mesma coisa com o homem reativo e sua concepção de ação. Por toda parte, a reversão dos valores e das avaliações, por toda parte as coisas vistas pelo seu lado pequeno, as imagens revertidas como no olho de boi. Uma das maiores frases de Nietzsche é esta: “É preciso sempre defender os fortes contra os fracos.” (Nietzsche, p0r Gilles Deleuze: Paris, PUF, 1965 (13ª edição, 2006), pp. 17-27. )


"É preciso afastar, em relação a pensadores como Nietzsche, o conceito de guerra – propagandístico ou ingênuo -, que o encara como uma espécie de Rosenberg mais fino e procura ver no seu pensamento o precursor do nazismo. Este antipangermanista convicto deve ser considerado o que realmente é: um dos maiores inspiradores do mundo moderno, cuja lição longe de exaurida, pode servir de guia a muitos problemas do humanismo contemporâneo. (...) devemos reter e ponderar a sua técnica de pensamento, como propedêutica à superação das condições individuais. “O homem é um ente que deve ser ultrapassado” – disse ele... (...) (Mello e Souza, Antônio Cândido. Nietzsche – Coleção “Os pensadores”. Editora Abril. Prefácio.)"


De acordo aos trechos citados de biografos e principalemente de suas obras mais importantes como Para Além do Bem e do Mal, Ecce Homo e Gaia Ciência, não há sequer uma declaração anti-semita e muito pelo contrário, Nietzsche não tinha escrúpulos a falar sobre a Alemanha e a "cultura alemã", além de fazer diversos elogios aos judeus. E que ninguém mais se atreva a fazer tais acusações a este nobre pensador, do qual o pensamento continua vivo e não terá talvez se imortaizado?


Alan Silva

2 comentários:

Alexandre Anello disse...

Gostei muito do seu artigo e obrigado pela citação.
Abraço do
Alexandre Anello.

Unknown disse...

Ótimo artigo parabéns. Creio porém que uma pessoa sem escrúpulos e com muita vontade de poder, convencido da visão Nietzscheana tende a "fabricar" propositalmente muletas niilistas para dominar, convencer e manpular as massas e obter delas um poder absoluto. Por essa visão e, tendo em vista a influência de Nietzsche no mundo moderno, é possível sim que ele tenha influenciado indiretamente não só Hitler mas todos os demais movimentos totalitaristas da Europa que se sucederam. Einstein desenvolveu a energia atômica para iluminar cidades mas acabou contribuindo para a criação da bomba atômica. Enfim...