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quarta-feira, 31 de março de 2010

O Muro

"Quer fazer a diferença?
Construa uma parede.

Quer mudar o mundo?
Pinte sua parede de amarelo manga.

Quer ensinar o tom certo?
Escreva a teoria do amarelo manga na parede.

Quer que todos leiam?
Coloque a parede no meio da rua.

Quer transformar sua teoria em religião?
Fale mal da parede dos outros.

Quer ser considerado messias?
Diga que construiu a parede do nada.

Quer que todos acreditem nisto?
Esconda os tijolos com massa corrida.

Quer criar uma franquia?
Escreva o livro da construção da parede.

Quer ter muitos franqueados?
Diga que é pecado construir paredes diferentes.

Quer que os franqueados obedeçam?
Diga que do outro lado da parede é o inferno.

Quer se sentir poderoso?
Sente-se no topo da parede.

Quer fingir que é humilde?
Olhe para baixo.

Quer saber a verdade?
Olhe pra sua parede."

(Marcelo Ferrari)


segunda-feira, 29 de março de 2010

O Nascimento da Tragédia

O Nascimento da Tragédia,

ou Helenismo e Pessimismo



Esta é a primeira obra do fiilósofo mais polêmico da Pós-Modernidade, e talvez até, por que não, o mais polêmico da história. Filósofo que se autodenominou "o homem que nasceu póstumo", por ter sido incompreendido pelos seus contemporâneos. Obra de um então jovem professor de letras clássicas despertou polêmica pelo seu caráter pessoal e pela ousadia de sua abordagem: desafiava a concepção tradicional dos gregos como povo sereno e simples, e exaltava a ópera de Wagner como renovadora do espírito alemão, numa singular mistura de reconstrução histórica, intuição psicológica e militância estético-cultural. Nesta obra o filósofo oferece não só uma interpretação das tragédias gregas, mas da própria cultura grega e moderna, do nexo entre arte e conhecimento e da época moderna.


O autor começa por afirmar que o contínuo desenvolvimento da arte está diretamente ligado à duplicidade do apolíneo e dionisíaco. O apolíneo é relativo ao deus Apolo, apresentado como o deus do sonho, das formas, das regras, das medidas, dos limites individuais. O apolíneo é a aparência, a individualidade, o jogo das figuras bem delineadas; e o dionisíaco é apresentado como o gênio ou impulso do exagero, da fruição, da embriaguez extática, da libertação dos instintos. É o deus do vinho, da dança, da música e ao qual as representações de tragédias eram dedicadas.


O Mito trágico é uma representação simbólica ou imagética da sabedoria dionisíaca. O dionisíaco manifesta-se a si próprio por intermédio de processos apolíneos – estéticos, representação. Essas representações levavam o publico a uma espécie de horror e posteriormente os arrebatavam através do prazer que sentiam por meio dos fenômenos inconscientes de si mesmos representados nas peças.


A duplicidade destes impulsos resulta numa luta incessante e se intervem periódicas reconciliações. A arte apolínea é a arte do figurador plástico, da estética; e a não figurada da música é a dionisíaca. Segundo Nietzsche ambos os impulsos caminham juntos, na maioria das vezes em discórdia aberta e incitando-se mutuamente a produções sempre novas. Contraposição que deu origem através do ato metafísico da vontade, gerando a tragédia ática. Segundo o autor estes dois impulsos básicos da criação da arte tem origem na embriaguez (dionisíaco) e nas representações oníricas (apolíneo). De um lado o conceito Uno-primordial - o impulso básico e primordial comum a todos o indivíduos, pelo qual se universaliza e imortaliza a arte (dionisíaco); e por outro o princípio-individual - impulso individual que diferencia o indivíduo da universalidade, o ato subjetivo.(apolíneo).

É feito uma analise da importância da arte para o povo grego, que devido a consciência das lástimas da existência tinha necessidade da arte para suportar a vida, onde o espectador via a si mesmo nas representações. Acontecia aí o fenômeno da purificação chamado por Aristóteles de catarse. Segundo Nietzsche “O nascimento da tragédia” se deu de maneira inconsciente, ora fruto da embriaguez, ora dos sonhos, que se imortalizou devido à necessidade da arte que é indelével a todos seres humanos quando conscientes das lástimas da existência, que também de maneira inconsciente se purificavam ao contemplá-las.


A morte da tragédia se deu graças a Sócrates com seu racionalismo. Sócrates percebeu que as pessoas não tinham um conhecimento seguro, sendo ele o único a admitir a si mesmo que nada sabia e por isso o Oráculo de Delfos o denominou o homem mais sábio. Sócrates percebeu também que as pessoas gostavam da tragédia, mas não a entendiam, apenas a sentiam. Sócrates acreditava que através da razão, e somente da razão, se poderia chegar ao conhecimento seguro e que somente aquilo que fosse inteligível seria digno, nobre.


Surgiu na contemporaneidade de Sócrates as comédias áticas de Eurípedes, onde o impulso criador passa a ser consciente e o crítico dessa nova espécie de arte passa a ser o inconsciente, que apesar de tornar as peças inteligíveis, a fez perder o seu caráter purificador, deixou de ocorrer a catarse, criando um vazio enorme entre os espectadores com a morte da tragédia.


Com Sócrates surgiu a ciência, o racionalismo, do qual buscava entender e explicar o mundo e o homem. Com o desenvolvimento da ciência e da filosofia, esse racionalismo radical levou o homem ao niilismo, a negação total e pessimista da vida, num estágio de conhecimento avançado, do qual a própria razão se torna insuficiente para explicar o todo, mas é capaz de negar qualquer verdade, restando apenas o niilismo passivo e negativo.


Para Nietzsche a música, do seu até então amigo, Richard Wagner era uma renovação do espírito da música, uma espécie de música que se imortalizaria assim como Beethoven e Mozart. Para ele a música e o mito trágico era de igual maneira a expressão dionisíaca, que seria capaz de justificar o pior dos mundos e tornar a vida possível, cobrindo a verdadeira essência da vida com um véu de beleza. Segundo ele a verdadeira essência da vida é lastimável e toda projeção futura, não passa de ilusão espraiada na busca dos prazeres ou na atenuação das feridas da existência, da qual só podemos afirmar a vida com as ilusões. Ele defendia a idéia de que se deveria buscar o renascimento da tragédia, de uma arte superior da qual poderíamos suportar vida, e assim religar a ciência e a filosofia à afirmação da vida terrena. Assim se manteria a ciência e a filosofia trilhando o caminho do conhecimento, da verdade, mas sem negar a vida. Concluindo que, para ele, temos a arte para não morrer com a verdade, onde a vida sem a música seria um erro.



Dados bibliográficos:

NIETZSCHE, Friedrich, O Nascimento da Tragédia ou Helenismo e Pessimismo - 1872. Notas, Tradução e Posfácio, Jacó Guinsburg, 1992.1º reimpressão, Editora Schwarcz - Ltda.

Friedrich Wilhelm Nietzsche (Röcken, 15 de Outubro de 1844 — Weimar, 25 de Agosto de 1900), formado em Filologia pela Universidade de Leipzig, escritor e crítico da filosofia.


(Resenha >> Alan Silva)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Das virtudes

“São boas as virtudes de um homem não por causa dos resultados que podem ter para eles, mas em função dos resultados que podem ter para nós e a sociedade... Quando se possui uma virtude, uma autêntica e plena virtude, então se torna vítima dessa virtude. E é exatamente por isso que o vizinho a louva.”

(...)“O próximo louva o desinteresse porque é dele que tira vantagens! Se o próximo pensasse também de maneira “desinteressada” não haveria de querer essa diminuição de força, esse prejuízo de que tira o seu lucro! Trabalharia contra o nascimento dessas inclinações!” (...).

(Nietzsche, Gaia Ciencia - 21)

O Fanático da Desconfiança e sua Garantia

O Antigo: Queres tentar o impossível ensinando aos homens? Onde está sua garantia?

Pirro: Aqui está: quero pôr os homens de sobreaviso contra mim, quero confessar publicamente todos os defeitos de minha natureza e revelar aos olhos de todos meus envolvimentos, minhas contradições e minhas tolices. Não me escutem, lhes direi, antes que não me tenha tornado semelhante ao menor dentre vocês e até menor que ele; revoltem-se contra a verdade quanto puderem, por causa do desgosto que lhes causa seu defensor. Serei seu sedutor e seu impostor e ainda encontrarão em mim o menor brilho de consideração e dignidade.

O Antigo: Prometes demais, não consegue suportar esse fardo.

Pirro: Vou dizer também aos homens que sou muito fraco e que não posso manter o que prometi. Quanto maior for minha indignidade, tanto mais o vão desconfiar da verdade que sair da minha boca.

O Antigo: Queres, portanto, ensinar a desconfiança da verdade?

Pirro: Uma desconfiança tal que jamais existiu igual no mundo, a desconfiança a respeito de tudo e de todos. É o único caminho que leva à verdade. O olho direito não deve confiar no olho esquerdo e será necessário que, durante algum tempo, a luz se chame escuridão: é o caminho que se deve seguir. Não crês que te levará a árvores frutíferas e à sombra de salgueiros admiráveis? Encontrarás nesse caminho pequenas sementes duras – são as verdades; durante anos, deverás engolir mentiras em quantidade para não morrer de fome, embora saibas que é mentira. Mas essas pequenas sementes serão semeadas e enterradas no solo e talvez a colheita vai ocorrer um dia: ninguém tem o direito de prometê-la, a menos que seja fanático.

O Antigo: Amigo, amigo! Tuas palavras, elas próprias, são palavras de um fanático!

Pirro: Tens razão! Quero ser desconfiado a respeito de todas as palavras.

O Antigo: Então deves ficar calado.

Pirro: Vou dizer aos homens que devo ficar calado e que eles devem desconfiar do meu silêncio.

O Antigo: Renuncias, pois, a teu projeto?

Pirro: Pelo contrário – acabas de me indicar a porta por onde devo entrar.

O Antigo: Não sei realmente se ainda nos compreendemos perfeitamente.

Pirro: Provavelmente não.

O Antigo: Contanto que tu te compreendas bem a ti mesmo!

Pirro se volta rindo.

O Antigo: Ai! meu amigo! Calar-se e rir – será essa agora toda a tua filosofia?

Pirro: Não seria a pior.

(Nietzsche - O Viajante e sua Sombra)


Nota do tradutor:

Segundo uma nota do tradutor R. J. Hollingdale, esta conversa entre "Pirro" e "o velho" é calcada no diálogo Piton, escrito por Timão de Flionte, discípulo do fundador do cetismo filosófico, Pirro de Élis ( c. 365 -260 a.c)

domingo, 14 de março de 2010

Ética e Existência

Durante toda sua existência o homem se deparou com diversas problemáticas, algumas delas insolúveis até os dias atuais. Uma delas é a questão da ética e moral: em que se fundamentar um código de conduta ético e moral?

Na maioria das culturas os códigos éticos e morais são determinados por entidades transcedentes, geralmente deuses. Eles determinam o "bem e o mal" e resta ao homem como ser inferior e submisso segui-lo para sua salvação. Em algumas culturas há o chamado - determinismo. Uma força metafísica pre-determina todas as ações do homem.

Atualmente com a morte de Deus e dos deuses, surgiu a grande problemática: em que se fundamentar a moral? Como fazer uso da liberdade?

No mundo ocidental essa problemática surgiu no Renascimento, onde o homem passou a ser livre e responsável por si mesmo. Temos grandes exemplos do pensamento da época, como por exemplo Maquiável em seu "O Princípe". Nesta obra ele defende o egoísmo e individualismo, onde o "Eu" é soberano e que os fins justificam os meios na busca pela ordem. Temos Erasmo de Roterdam com sua obra "Elogio da Loucura" onde mostra com clareza a hipocrisia do homem civilizado e sua loucura disfarçada sob o véu dos bons costumes e na critica do racionalismo exacerbado. Não poderia esquecer do nosso "cavaleiro andante" o famoso Dom Quixote, que se espelha em outros para a construção de si próprio. Por fim temos Thomas More com sua obra "Utopia" em que idealiza a instituição perfeita para a vida em sociedade, baseada nos escritos platônicos de A Rupublica.

Temos aí exemplos, apesar de antigos, demasiado atuais. A crise de "humanidade", de "consciência" e crise de identidade, onde homem não sabe como se construir.

Outros mostraram como é egoísta e anti-democrática a natureza humana, como Hobbes e por fim o niilismo de François Sade, que percebe que não há meios onde se possa fundamentar uma moral universal. Houve Kant com seu "imperativo categórico": a sua maneira de agir deve ser a maneira de como gostaria que se tornasse lei universal. Porém o caráter subjetivo e imperativo a refuta. E por ultimo o "Genealogista" com seu martelo filosófico, Nietzsche, que viaja até os primordios da moral para descobrir sua origem, e percebe que este é um problema insoluvel, pois o homem está "Para além do Bem e do Mal" questionando qualquer metafísica e transcendencia, do qual se denomina amoral.

Com a morte dos deuses e da moral, quem nos guiará ao melhor caminho? Encerro a este encontro com uma bela citação do Nietzsche e quem sabe o que teremos para o próximo encontro?!

"... Mas de quando em quando - se admitirmos que existem benfeitores celestes além do Bem e do Mal - concedei-me, oh deuses, um olhar com que eu possa achar um ser absolutamente completo, feliz, poderoso, triunfante, no que ainda há algo a temer. Um homem que justifique o bem! Conceidei-me que ache uma felicidade que complete e salve o homem pelo qual se possa manter a fé no próprio homem... A má sorte da Europa com o medo ante o homem fez-nos perder também o amor que lhe devotávamos, a veneração que lhe tínhamos e a esperança que lhe consagrávamos. O aspecto do homem fatiga nos."

(Friedrich Nietzsche - A Genealogia da Moral)


Texto >> Alan Silva