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segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Fantasma na Máquina

Quando Vic Tandy ficou até tarde no trabalho uma noite mal sabia que estava a ponto de tropeçar em uma possível razão porque algumas pessoas vêem fantasmas. Sua ‘Teoria do Infrasom’ levou os membros da Society for Psychical Research a aconselhar os investigadores paranormais a estarem atentos aos efeitos elusivos que ondas sonoras de baixa freqüência podem trazer.

Por algum tempo Vic tinha ouvido estórias de fantasmas de outros colegas da empresa fabricante de equipamentos médicos onde trabalhava, mas sendo um engenheiro sensato, ele descartou as estórias e deixou as experiências do pessoal aos animais locais ou vários pedaços de equipamento zumbindo. Não até que decidiu ficar até tarde uma noite. Ele começou a perceber que talvez houvesse mais do que havia pensado original e racionalmente.
Enquanto trabalhava, Vic começou a sentir intranqüilo e teve o sentimento de que outra pessoa estava na fábrica com ele embora soubesse que estava sozinho. Então de repente viu uma aparição cinzenta aparecer à sua esquerda. O recinto parecia frio e ele teve um sentimento forte de estar sendo observado. "Não seria irracional sugerir que eu estava apavorado", disse depois. Ele finalmente juntou coragem o bastante para enfrentar a visão misteriosa, mas quando se virou a imagem desapareceu. 

Na manhã seguinte Vic trouxe uma chapa de esgrima ao trabalho, não para proteção mas para fazer um trabalho pequeno de conserto na manivela. Ele pôs a lâmina de lado e foi à procura de um pouco de óleo. Quando voltou notou que a chapa estava vibrando. Ele teve o mesmo senso de intranqüilidade que tinha experimentado na noite anterior mas agora quis saber se as vibrações na espada tinham qualquer coisa a ver com esta sensação inexplicada ou, se for assim, com os eventos da noite anterior. 

Vic tinha visto este efeito antes e lhe ocorreu que um som de baixa freqüência de uma máquina poderia estar fornecendo a energia para mover a chapa, um som tão grave que não era audível. Ele começou a experimentar e eventualmente conseguiu localizar a causa do problema em um exaustor. Seguindo testes adicionais Vic concluiu que o ventilador estava causando uma "onda estacionária de 19Hz" e decidiu pesquisar o que tal efeito causaria no corpo humano.

Ele consultou ‘Infra sound and Low-Frequency Vibration’ editado por W Tempest (Academic Press, Londres, 1976) e achou um par de estudos de caso interessantes. ‘Consultores de barulho foram solicitados a examinar um grupo de baías em uma fábrica onde os trabalhadores relataram sentir-se intranqüilos.
A baía tinha um ambiente opressivo que não estava presente nas áreas adjacentes embora o nível de barulho parecesse o mesmo. 

Os trabalhadores da administração e consultores estavam todos atentos da atmosfera incomum e em investigação descobriu-se que som de baixa freqüência estava presente a um nível ligeiramente mais alto que em outras baías, contudo a freqüência exata do barulho ofensor não era óbvia. 

A causa do barulho era um ventilador no sistema de ar condicionado. Os trabalhadores em um prédio universitário de radioquímica experimentaram o mesmo sentimento opressivo acompanhado de vertigem quando o ventilador em um armário de fumaça era ligado.

Isolantes de som convencionais tinham reduzido o som audível ao ponto onde quase não havia qualquer diferença no barulho do ventilador ligado ou não. A situação afetou algumas pessoas tanto que se recusaram a trabalhar no laboratório. Foi concluído que o componente de baixa freqüência do som era o responsável.
Vic Tandy concluiu que "O infra-som tem dois efeitos. Faz o globo ocular vibrar e assim borra sua visão e também causa sobre-respiração ou hiperventilação, que levam a sentimentos de medo e ansiedade. Você provavelmente precisa de um objeto ou um movimento pequeno na periferia de sua visão para começar o fenômeno, então o cérebro pode preencher os detalhes de seu subconsciente." 

Enquanto isso um Relatório Técnico da NASA (19770013810) menciona uma freqüência ressonante do olho humano de 18 Hz causando severo ‘borrão’ da visão. Outros documentos analisando o efeito do infra-som e vibração de baixa-freqüência sugerem que hiperventilação e outras condições respiratórias podem ser também ligadas ao fenômeno. 

As descobertas de Vic Tandy e seu associado Tony R Lawrence apareceram no Journal of the Society for Psychical Research e o artigo deles começa com o parágrafo seguinte: ‘Neste documento nós esboçamos uma causa natural ainda não documentada para alguns casos de assombração ostensiva. Usando a própria experiência do primeiro autor como um exemplo, nós mostramos como uma onda de ar estacionária de 19Hz pode sob certas condições criar fenômenos sensórios sugestivos de um fantasma. A mecânica e fisiologia deste efeito ‘fantasma na máquina’ são esboçadas. Pesquisadores de caso espontâneos são encorajados a excluir esta explicação natural potencial para experiência paranormal em casos futuros de assombração ou do tipo poltergeist’. 

Vic Tandy está atualmente pesquisando a possibilidade de que certas condições de tempo também possam causar infra-som, explicando assim algumas assombrações ao ar livre. Ele suspeita que camadas de ar em movimento poderiam causar ondas sonoras em situações como temporais mas no momento está procurando artigos acadêmicos sobre este fenômeno difíceis de encontrar.

***

Notas do editor CA: O título original do texto é ‘A Sound Theory?’. A imagem de capa foi retirada da página Fortean Slips (parascope), Spooky Acoustics. Os recursos adicionais abaixo foram adicionado pelo editor CA.

Fonte: http://www.ceticismoaberto.com/paranormal/2083/o-fantasma-na-mquina

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Homo Sapiens 1900 - Peter Cohen


Homo Sapiens 1900 é um documentário do sueco Peter Cohen, feito a partir de arquivos históricos, incluindo fotos e filmes, que discorre sobre a Eugenia e sua aplicação ideológica e científica no século XX.

O termo “eugenia” foi cunhado pelo inglês Francis Galton em 1883, que significa “bem nascido” e foi definida por ele como o “estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente”. Galton é fortemente influenciado pela obra A Origem das Espécies, do seu primo Charles Darwin. Galton propôs a “seleção artificial”, que seria o controle sobre as “forças cegas da natureza” da “seleção natural” para melhoramento da espécie humana conforme seus ideais. Tendo em vista que a concepção de homem da época o via em constante degeneração, longe dos ideais mentais e físicos cultivados pela intelectualidade e pelas artes plásticas, inclusive a antiga grega. Diz Peter Cohen:

“A imagem do homem revela o que o distingue dos outros seres: sua habilidade de observar a si próprio. É a sina do homem que ele não só se contenta com o que vê, mas se aborrece com suas próprias imperfeições físicas e mentais.” (...)

“Arte: o produto sublime da autocontemplação. A imagem clássica do homem em busca da beleza e harmonia, longe da impassível realidade. O desespero do homem em face da sua própria inadequação sua incapacidade de conviver com a imagem que ele próprio criou levam nos a essa impotência.”

 (Capela Sistina - Michelangelo)

A Eugenia obteve aceitação esmagadora dos cientistas da época, dividida em “Eugenia Positiva” e “Eugenia Negativa” e aceita pelas duas principais correntes de pensamento da época, Lamarckistas e Mendelistas. A “Eugenia Positiva” consistia na reprodução de casais seletivos, com as características ideais, na crença de que com a soma das características do casal se obteria ao longo das gerações a melhoria da raça. A “Eugenia Negativa” consistia no impedimento da reprodução de indivíduos considerados “não-aptos” ou “degenerados”, evitando assim o empobrecimento genético da raça como um todo. Os Lamarckistas acreditavam que as características adquiridas eram transmitidas para os descendentes alimentando a esperança de criar um “novo homem”. Os Mendelistas acreditavam que apenas as características herdadas eram transmitidas aos descendentes através da hereditariedade, que posteriormente foi comprovada.

Ao contrário do que se pensa a Eugenia é de origem inglesa e foi fortemente aceita pela maioria da Europa, URSS, EUA, e outros paises. Os Estados Unidos foram pioneiros na aplicação prática da Eugenia, sendo os criadores da Eugenia Negativa e o primeiro a criar leis proibindo a reprodução dos até então considerados “degenerados”. Em seguida Suécia adotou um sistema de lei similar, proibindo a reprodução de cerca de 8 mil pessoas consideradas “degeneradas” e foi na Alemanha Nazista que a Eugenia Negativa atingiu o ápice do horror na esterilização a força de 400 mil e eliminação de 100 mil alemães considerados inaptos, além do ódio aos judeus que levou ao genocídio da até então raça considerada inferior.

Enquanto isso diversos testes mentais são elaborados por cientistas na tentativa de medir a inteligência e diversas competições são feitas nos Estados Unidos e Suécia, premiando aqueles que se sobressaíssem.

No ano de 1927, o geneticista Alexander Serebrovski tentou impedir o avanço do Lamarckismo num artigo científico que descrevia a descoberta de Herman Muller que o Raio X causa mutações genéticas. De acordo Serebrovski essa descoberta demonstrava a falsidade da teoria Lamarckista. Porém Muller continua obcecado pela Eugenia e tenta dar continuidade as pesquisas a favor da Eugenia na URSS, que foi o pioneiro na proibição da Eugenia. O que seria o sonho do fascismo nazista, era o pesadelo da União Soviética e do comunismo. Muller se dirige diretamente a Stalin com a proposta de criação do “novo homem socialista”. Escreve Muller:

 “Caro camarada Stalin. Como um cientista confiante nos últimos triunfos bolchevistas em todas as esferas possíveis venho a você com um assunto de vital importância. Trata-se nada menos que o controle consciente da evolução biológica humana que é o controle do material hereditário, a base da vida”.

Muller condenava a doutrina da pureza racial nazista e afirmava que a eugenia só poderia ser produto do socialismo e acreditava que dentro de poucas gerações poderia se elevar a massa a condição de gênio. Porém para Stalin genética, eugenia e fascismo são considerados uma coisa só e é dada voz de prisão a Muller, que foge da URSS.

Em 1942 Estados Unidos estão em guerra com Alemanha e movimento eugênico entra em retração. Isso não por causa somente do genocídio nazista, mas por causa das descobertas da genética que mostram que Eugenia não tem validade cientifica. Em 1945 acaba a segunda guerra mundial com a derrota da Alemanha e do Eixo. Com isso surge a Organização das Nações Unidas e criação dos Direitos Humanos. A partir disso a eugenia perde força e são discutidas questões éticas de sua aplicação, sendo extinguida em todo o mundo.

Peter Cohen encerra o documentário com as seguintes palavras:

“Sob as ruas da cidade, os cemitérios da civilização. Os restos biológicos da hereditariedade. ‘Oh, essas novas ciências’ escreve Emile Zola há cem anos atrás.‘Essas novas ciências que ainda falam a linguagem das hipóteses e que ainda não se libertaram do poder da imaginação. Elas tem mais haver com os poetas do que com os cientistas. Que formidável afresco fica para não ser pintado que colossal comédia e tragédia humana não foi escrita! O material de que cada questão da hereditariedade nos dá parece infinito.’”

(...)“O homem criou uma civilização que o isola da natureza e o deixa em um conflito entre o progresso e a saudade do passado. A civilização é guiada pelo conceito do eterno progresso que pode sempre abrir novas portas.”



O documentário possui uma retórica impecável e apesar de ser um conteúdo um tanto “pesado” e dramático, sua estruturação é feita com argumentações intermitentes, seguida de uma suave música, permitindo assim que o espectador “respire” e possa digerir bem as informações. Porém na argumentação o autor ignora uma série de críticas de antropólogos como Alfred Kroeber, Franz Boas, Levi-Strauss que demonstraram a inexistência de raças e que a evolução humana é influenciada mais pela “seleção cultural” do que pela seleção natural.¹ Mesmo assim é um documentário excelente e imprescindível para melhor entendimento da história do século XX que foi marcado por diversos conflitos e escrita com sangue humano. É preciso conhecer o passado para entender o presente e para construir o futuro sem cometer os mesmos erros do passado.

"Quem não sabe prestar contas de três milênios
Permanece nas trevas ignorante,
E vive o dia que passa."
                 
                                (Goethe)

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Referencias Bibliográficas:

Homo Sapiens 1900 – Peter Cohen (1998).
Cultura: um conceito antropológico – Roque Laraia (1986).

Nota:
1 Cultura: um conceito antropológico – Roque Laraia (1986)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Hamlet - Shakespeare

Hamlet é considerada uma das obras primas de Shakespeare, imortalizada pelo seu caráter dramático e trágico e pela magnífica representação do "espírito do seu tempo". A peça se passa na Dinamarca, no século XVII. O enredo se trata dos conflitos em que o Príncipe Hamlet enfrenta com a  morte de seu pai, o Rei Hamlet, que posteriormente ele descobre que foi assassinado pelo seu tio, irmão do seu pai. O Rei aparece sob a forma de um fantásma e revela a verdade para Hamlet ,que a pedido do seu pai jura vingança ao seu tio, que além de assumir o trono desposou sua mãe, a Rainha. 

Muito além de apenas um peça dramática e trágica, Hamlet é a expressão mais profunda do "Zeitgeist", termo alemão que remete a "espírito do tempo", que revela muitas das angústias do seu tempo, do Renascimento. O "Renascimento" é transição da Idade Média para um novo tempo em que diversas mudanças antinômicas acontecem, como surgimento da idéia de liberdade, a subjetividade, a perda do poder do Clero e principalmente  que Deus deixa de ser o centro do mundo e de determinar o todo, e o homem passa a ser o centro do mundo e livre para se determinar. A crença em Deus não deixa de existir, mas Deus é enviado para o céu e na terra fica apenas o homem e seu livre-arbítrio.Se Deus não determina mais o devir e nem é o centro do mundo, isso passa a ser tarefa do homem, determinar a si mesmo e definir toda escala de valores - o Bem e o Mal. Toda essa liberdade gera angústias, dúvidas, incertezas. 

Na obra Hamlet fica evidente o conflito de valores, a angústia, dúvida e hesitação ao agir e o que fazer  - "Ser ou não Ser, eis a questão!". E também a inauguração dos monólogos, os diálogos consigo mesmo, o processo de interiorização e introspecção que não existia na idade média e passa a ser uma das características marcantes do Renascimento até a Modernidade nos dias de hoje.


Referencias bibliográficas:

Hamlet - Shakespeare
A Construção do Eu na Modernidade da Renascença ao século XIX - Pedro Luiz Ribeiro Santi


Alan Silva